São tantas as inconclusões que navegam pela praia da imaginação, tantos os pensamentos, tantas as emoções e as vivências. Plasmá-las em texto é um exercício avassalador, é como se tentasse comprimir o mundo nas minhas mãos. E a melancolia irresistivelmente triste que paira pelas ruas de Espinho pouco ou nada ajuda.
Talvez comece pelo acaso. Essa circunstância indeterminável que nos vem parar por indefinição de vida ao percurso. E nada melhor do que relatar em várias fases o processo de auto-consciencialização que se adquire através da prática associativa. Sempre tão corajosamente estimuladora do amadurecimento moral, tão rica em encruzilhadas intelectuais e em reconhecimentos frutíferos - esta ocorrência é especialmente feliz quando se propõe um plano de iniciativas e durante dois anos se corre atrás dos receptores dessa proposta na busca de uma definição concreta sem rodeios ou as habituais circunferências. Talvez comece por essa espiral de emoções que rebenta junto ao mal diante da solidão reflexiva da carne, encoberto de um caudal de orvalho que fere os pulmões até ao despenhamento da pele. Sempre me foi difícil em matéria escriturária, quiçá por efeito de uma lapso administrativo explicado por efeito de uma educação excessivamente entregue a mim mesmo, às brincadeiras inofensivas no campo, uma entrega absoluta ao mundo sem grande contacto com o social.
Mas antes de me iniciar no ritual de prolongamento do passado, admito uma dose fértil de imaginação e sarcasmo repleta de crítica mordaz e irónica às estruturas que nos rodeiam: pessoais, materiais e institucionais. Espero que não se sintam atingidos. Antes de valorar o que me circunscreve, creiam com exactidão e honestidade, que me fartei de observar o meu crânio ao espelho, vomitar os espinhos cravados na epiderme e de apreciar as qualidades sinceras que também nos animam neste Espinho tão deserto de pessoas quanto de ideias.